Em março de 2018 eu concluí o "Caminho Velho" da Estrada Real - percurso amplamente difundido e conhecido pelos ciclistas - e, de imediato, me veio à mente a ideia de realizar os outros trechos da Estrada Real. Antes mesmo de começar o planejanento desta nova etapa, me dei conta que iria passar um bom tempo conhecendo o estado de Minas Gerais sendo que, do meu próprio estado - Goiás -, eu conhecia muito pouco.
Nascia aí a ideia de primeiro conhecer um pouco mais do meu estado e a este projeto dei o nome de "GO de bike". Dada a impossibilidade de me dedicar exclusivamente a este projeto, tendo em vista que ainda estou na ativa, estipulei que o meu objetivo seria visitar todos os municípios do estado, mesmo que fosse, literalmente, de passagem.
Defini também que utilizaria uma imagem padrão para representar a minha passagem por cada um dos municípios e, para isso, optei por uma selfie em frente à Prefeitura Municipal, já que é um prédio público que todo município tem. Sendo assim, muitos municípios que eu já conhecia tiveram que ser incluídos novamente no meu roteiro pois, mesmo já os tendo visitado, eu não possuía a "imagem padrão".
O projeto não tinha um prazo para ser concluído, tendo em vista que eu utilizaria somente os finais de semana, feriados e o meu período de férias, mas defini que nada seria divulgado antes de sua conclusão, pois não queria cobranças nem expectativas.
Moro em Goiânia e comecei visitando as cidades do entorno, utilizando os finais de semana, com a saída e a chegada na porta da minha casa. Em pouco tempo eu já havia percorrido todas as cidades próximas e então tive que mudar de estratégia. Colocava a bicicleta no carro, ia até uma cidade escolhida e a usava como base para percorrer as cidades próximas de bicicleta. Terminado o percurso, colocava a bicicleta no carro e retornava para casa. Quanto às cidades mais distantes aí não tinha jeito, eu dependia do meu período de férias pois, geralmente, um percurso até estas cidades durava 20 ou 30 dias.
A velocidade nunca foi uma das minhas preocupações. O meu ritmo é lento pois o meu objetivo não é chegar depressa e sim apreciar o passeio. Sou um ciclista solitário, pouqíssimas são as ocasiões em que tive companhia na minha jornada, a maioria dos meus trajetos são somente eu, a bicicleta e Deus.
Utilizei uma única bicicleta para realizar o projeto GO de bike. Uma bicicleta simples, aro 29, equipada com um bagageiro resistente e suporte para uma bolsa de guidão. Antes de iniciar os percursos longos eu sempre fazia uma revisão completa na bicicleta e colocava câmaras e pneus novos. Com isso reduzi bastante a ocorrência de problemas mecânicos no decorrer das viagens, até mesmo os pneus furados foram raríssimos.
Na minha bagagem eu levava o mínimo possível de coisas: 3 camisas de ciclismo, 3 camisetas, 3 calças tactel (utilizava durante o percurso e para o deslocamento nas cidades), 3 câmaras de ar, ferramentas para a bike, material de higiene, kit de primeiros socorros, água de reserva, vários pares de meias, chinelo, material fotográfico, documentos e miudezas em geral. Sempre utilizei hospedagens e refeições nas cidades, por isso nunca precisei levar nada no gênero.
O meu estilo de pedal funcionou muito bem comigo, mas não recomendo a ninguém: sempre começava o dia com um bom café da manhã e rodava direto até alcançar o ponto estabelecido para aquele dia. Claro que havia as paradas para descanso, lanche, hidratação, fotografias etc, mas não parava para almoçar. Ao chegar ao destino, procurava uma hospedagem, me instalava, tomava um banho, descansava um pouco e só aí ia procurar uma refeição, geralmente uma janta que seria a minha única refeição do dia.
Se chegava cedo, fazia um giro a pé pela cidade; se não, o giro ficava para o dia seguinte antes de sair da cidade. À noite fazia uma lavagem superficial das roupas utilizadas no dia, que ficavam secando no quarto mesmo. Se o percurso do dia envolvia estradas de terra, as meias ficavam muito sujas e, portanto, eram descartadas. Caso contrário seriam utilizadas por mais um dia e logo então seriam descartadas. Por isso sempre começava uma viagem com uma porção de pares de meias.
Durante todo o meu período de pedal e não somente durante o projeto, graças ao bom Deus, nunca tive nenhum problema envolvendo acidente, violência, doença grave ou qualquer coisa do gênero. Sei que, infelizmente, muitos ciclistas são acometidos por problemas assim, por isso me considero agraciado pela proteção e bondade do Pai celestial.
Levei um único tombo em toda a minha vida de ciclista. Isso aconteceu numa rua sem movimento, na cidade de Bonfinópolis, próximo a Goiânia. Felizmente só meu orgulho saiu ferido.
Os maiores problemas que enfrento pelo caminho, classifico-os em três categorias:
Felizmente a grande maioria dos motoristas são prudentes, atenciosos e preocupados com a direção defensiva. Mas, há ocasiões em que a gente encontra um motorista que parece não se preocupar com mais ninguém além dele mesmo. Motorista que, numa reta, sem mais nenhum veículo, resolve passar “tirando fino” em você ao invés de ultrapassar pela faixa contrária. Certa vez, em uma subida numa estrada de terra, tive que parar diante de um mata-burro pois o único motorista que vinha em sentido contrário, na descida, não pôde esperar eu cruzar o obstáculo. Não custava para ele, por questão de gentileza, aguardar uns 10 segundos enquanto eu cruzava o mata-burro. Acho que este tipo de motorista, ao ver um ciclista, se esquece que ali há também um ser humano e não “alguém que não tem o que fazer”.
Prefiro a estrada de terra ao asfalto, mas, entre um trecho de terra que não conheço e não tenho referência e um trecho de asfalto, prefiro o asfalto. Pelo menos é garantia que vai chegar a algum lugar. Mas as nossas rodovias têm um problema sério: acostamento. Excetuando as principais rodovias que são bem cuidadas, sinalizadas e tudo mais, em grande parte das outras o acostamento é descuidado, às vezes com valas, vegetação, pedras e há lugares em que não há acostamento. Grande parte das rodovias, nos aclives, adiciona uma terceira faixa para... os veículos. Ao abrir uma terceira faixa, o acostamento é simplesmente eliminado. E dane-se quem precisar utilizá-lo. Para as rodovias só importa o veículo, nada mais.
Um dos grandes problemas que vejo na nossa malha viária é a sinalização, ou melhor, a falta dela. Tudo bem que uma estrada de fazenda, para uso local, não necessite de sinalização, mas, muitas das nossas rodovias estaduais (GOs) ainda são em estradas de terra e não ostentam nenhuma indicação de “para onde vai”, imagine mencionar a distância então... Já encontrei até mesmo rodovia asfaltada, cruzando com outra rodovia asfaltada e nenhuma placa em nenhum dos lados. Sei que hoje em dia o GPS é quase uma obrigatoriedade, mas, há local em que o sinal é ruim, ou a bateria está acabando e, nesses casos, uma indicação de que você está no caminho correto é muito gratificante.